segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Inércia, a parvoíce e uns filhos da puta!

 
 
 
Cresci a aprender que Abril fora uma conquista gigante que os militares lusitanos levaram a cabo, primeiramente, nem tanto pelo povo, mas feitas as contas, baralhando e voltando a dar, a verdade é que as motivações ficaram sempre para segundo plano, face ao que se conseguiu nesse dia.
Cresci orgulhoso dos cravos e da relativamente pacífica maneira de levar para baixo um regime que, por tempo julgado infindável, se ocupou de tornar ainda mais pequeno um país cuja história falará sempre mais alto.
Cresci um pouco mais e comecei a deixar de parte algumas coisas que aprendera mais cedo, não me faziam sentido, apenas. Achei ideias e argumentos descabidos, a partir de determinada altura, purgando a informação e retendo a que me soou real e fidedigna.
Crescer tem sido uma permanente novidade, uma vez que quando penso não ser surpreendido, algo ou alguém me arregala os olhos de espanto! Esperava, mais cedo ou mais tarde, que a inércia de um povo secular se diluísse por entre os quilómetros de aldrabices e mentiras que deixou nas mãos de vasto rol de experimentalistas desprovidos de sensatez e altruísmo, sugando o que de melhor Abril proporcinou, a liberdade.
Não sei se as coisas se manterão. À vontade de mudança e inconformismo de alguns, pesa ainda uma maneira de viver que grande parte do Zé Povo alimenta apoiado num "american dream" à laia do velho continente, onde só falta (!?) mesmo a alimentação mediterrânica converter-se em carne picada e o azeite ser substituído pelas molhangas do Tio Sam. O problema é que foram as terras desse "velhote" que deram o tiro de partida para os tempos de crise que a senhora Merkl agora reclama serem da exclusiva responsabilidade dos pobres latinos que, inertes, têm sustentado décadas e décadas de existência na capacidade invulgar de se desenrascar, sempre que os problemas influam directamente com a hora da bola e a eventual ausência da esplanada.
A questão é que se tem generalizado e, por consequência, esquecendo-se que tal como nos States imaginados por Romney existe felizmente um Obama, também por cá há gente a gritar "Sim, nós podemos!" e a fazer diariamente deste país algo mais sério e capaz que um Parlamento repleto de párias assegurando a sua féria e levando a comidinha à boca de meia dúzia de agiotas e oligarcas sádicos que tornam a Economia a mãe de todas as políticas...
Sobra um pormenor. É que a canalha que se perpetua quase por linhagem directa, continua a gargalhar e a escarrar em cima de quem LHE produz o Mercedes, a Louis Vitton e outras siglas que envaidecem pais, filhos, netos e amiguinhos de uma Máfia que deixa a napolitabna a léguas de distância. Acusar-me-ão de contradição ao generalizar por esta altura. Enganam-se. Não o faço. O problema é que os sérios e bem intencionados não estão na política e já há muito se afastaram. Por inércia? Não creio. Por vergonha de 38 anos que se encarregaram de encher um Zé Povo de sonhos e ilusões, ensinando-lhe que o Salazar era um sacana de um ladrão, etc...
Cresci... e hoje se calhar não era má ideia começar a ensinar às crianças que o "seu" país foi feito por lacaios da ambição desmedida, como Soares, Silvas, Loureiros, Sócrates, Catrogas, Constâncios, Gaspares, Barrosos, Santanas, entre outras dezenas largas de senhores que alicerçaram Portugal numa mescla de nojo, mentira, deslumbre e roubo.
O Zé Povo, inerte, ficou a ver, a rir-se, a fazer do Estado um pai que lhe diz o que há-de ou pode fazer, e a consolidar a posição de parvo que atingiu os píncaros até há pouco tempo...
Pode ser que a crise arregale os olhos de espanto e abra a consciência e os horizontes a quem nunca pensou possível... e assim fique no passado a inércia e a parvoíce de muitos, do Zé Povo e principalmente de quem tem vergonha de lhe pertencer.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

"(...) A viagem levou-o ao mundo que deixara de conhecer. Os homens caídos na berma, os odores da podridão, o grito da noite ecoado em toda a cidade. Ficara-lhe o gosto do abismo no cheiro inconfundível das brancas trevas, apressadas a subi...r ao cérebro e a perpetuar a ilusão de uma loucura sã... O sorriso estúpido avermelhado arregala-lhe o mundo e descobre-lhe a vida reinventada para as próximas horas! Sorri, oferece as mais estridentes gargalhadas à noite e à cidade, grita, gritos dançados e ridículos, chama o 'seu' nome, chora, desespera, cai, chora ainda mais, e a calçada fria é, por agora, o colo... A viagem termina (...)"

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A meio passo da loucura...

O desespero irrompe como nunca, inclemente, destruindo os mais belos sonhos que construí no fim da adolescência, quando me imaginei a amar de sorriso estampado nas ventas! Hoje, como há muito não o queria reviver, entrego-me aos braços enrugados e peludos da loucura, desbravada em mim com a impiedosa dor que me castiga a alma e o corpo!
Quedo-me à força bruta do destroço mais cinzento e ardido, prostrado à solidão, à enchurrada de lágrimas e de frustração que me inunda a sala alentejana de meus pais, onde falta o meu avô Amadeu! E que falta me fazes! Escondo-me aqui, no que resta da minha Irlanda e de um maço de cigarros outrora partilhado. Esqueço-me de ser feliz. Já nem sequer me procuro. "Meu Deus!", quem me dera que me fosses real em mim, que habitasses esta maldita sala alentejana que me traz o fel que há muito tempo não me temperava!
Já nem sequer me arrisco a dizer que é melancolia, porque já a ultrapassou há muito. O precipicio da loucura é ventoso, fustiga-me como mil punhais sangrando-me o corpo num acesso sádico e tremendo de gargalhada!
Perdoe-me quem não mereceu de mim a nobreza que ofereci a outros. Garanto-vos que não foi por mal, jamais! Castiguem-me, se quiserem, será justo. A dor e a angústia unem-se como há muito não o faziam! Hoje, sugeriram-me o desespero, "beijaram-me" como nunca Judas o ousou fazer. Riram-se, juntas, na minha cara chorada por mil saudades do que nunca fui e pelo desgosto latente do que sou! Porque é que, por uma vez, não sigo a intuição e me defendo da queda!?
Puta que pariu a seriedade, a nobreza, o cavalheirismo, o sentido de humor, a escrita, a voz, a camaradagem, a educação, o charme, a postura! Puta que pariu a inteligência, a cultura, o canto, o toque, o fado! Puta que pariu o futuro!
Então e eu? Então e a reciprocidade? E a cumplicidade? E a verdade??
A verdade é que não sou mais do que um tormento gotejado em cada nota de um Fado Menor, um fardo de mim mesmo, um sonho triturado pela maquiavélica engrenagem de um mundo pequeno demais para quem ama. As pessoas já não amam! É coisa que dá trabalho, e isso chateia... As pessoas omitem, iludem, dão palmadinhas nas costas e acham lindos os nossos sonhos, acham sempre lindos. Porque são nossos, e isso não lhes dá trabalho nenhum. Faz-se o elogio da misericórdia, como se esse fosse o caminho natural para nos abortar o desespero. Puta que pariu a misericórdia! Então e eu?
Eu? Eu tenho passado a vida a iludir-me com a certeza da ode ao amor, de que tudo faz sentido por aí. Eu dou os meus cento e tal quilos em entrega total e disponibilidade para estar, ser o primeiro ajuda, para amar desinteressadamente. Mas isso é pedir demasiado, dá muito trabalho!... E mais trabalho dá aturar um tipo armado em lírico que deseja apenas ser feliz... amando.
Ganha-me a ilusão. E nada mais.
E hoje, mergulhado num misto de álcool, desgosto profundo, frustração, e uma revolta desmedida, sou apenas aquilo que, afinal, tenho sido toda a vida: um tipo charmoso que recebe elogios múltiplos de meia dúzia de pessoas, discreto, triste, frustrado, que cada vez menos se ilude com o desfecho dos sonhos. Puta que os pariu!
Então e eu? Eu fico, uma vez mais, comigo. Vencido. Por amar...

domingo, 6 de maio de 2012

E o sorriso aqui tao perto...



Há demasiado tempo que aqui não vinha. Também é verdade que há muito tempo não me encontrava. O caminho de regresso não foi fácil, nunca o é, andei meses a fio ocupado com a melancolia de sempre e a tentar saber porque é que, com tanta gente para visitar, ela me "escolhe" sempre a mim. Enfim.
Tentei saber de mim em mil pessoas, noutros tantos locais mais ou menos recomendáveis. Assustei-me muitas vezes com aquilo que pensei ser eu. Pensara ver-me em diversas situações, imaginei-me, sonhei-me. Tudo em vão... Tenho escrito, não aqui, mas o importante é que tenho escrito. Afinal, tem sido sempre assim desde que me conheço com as minhas parcas virtudes e a mais estúpida sensação de desgraça que me ocupa há demasiado tempo. Tanto tempo!
Adio ainda a "visita" ao meu velho Amadeu (creio ainda que é na tua campa, meu avô, que estará o Santo Graal que me salvará da loucura), mas continua a faltar-me a coragem, não sei se por medo de inundar de lágrimas as moradas dos outros desgraçados que vivem contigo, se com o mais que certo medo de não escapar mesmo à loucura. Mas sempre "te" disse que iria, não sozinho (com medo não sei bem do quê, lá está!), mas irei em breve. Tenho coisas para te contar. Está prometido. Fui habituado a cumprir as promessas pelo meu pai e pela tua amada filha...
Numa altura em que volto a sonhar, o tormento da derrota ressurge com a pujança fiel a um toiro enraivecido. É raro sonhar (a exemplo da melancolia, tem sido sempre assim), na verdade acho que nunca o soube fazer. Como agora, é em jeito de avalanche e com um trote largo e desenfreado que tudo acontece. Sonho ser feliz, e só isso é já suficiente para todos os seus paradigmas se encavalitarem, em barda, na tentativa de uma teimosa e adiada concretização. Luto por isso, talvez como nunca. Afianço que é chegada a hora certa para o fazer. Mereço-o provavelmente pelo que tenho sido e procurado ser ao longo de todos estes anos, sobrevivendo à angústia, à melancolia, aos destroços do caminho... Tenho sido estóico nessas glórias, reconheço-o, mas de pouco me valeram para levantar o queixo.
Hoje, há um estranho optimismo que, a pouco e pouco, me invade dias e alma. Estou alerta para a eventualidade de sorrir, e aposto nisso com certeza inviolável, partilhando finalmente tudo o que sou e o que tenho sido, nomeadamente as mais arrependidas e dolorosas etapas de uma estrada onde falta o asfalto há muito. Parece sair-me de cima cada tonelada que fiz minha sem saber muito bem porquê ao longo do meu tempo, de cada vez que me desfio aos "seus" ouvidos. À estranheza e à novidade do meu sorriso, respondo apenas com o sonho. E que melhor maneira de responder agora que sorrio!?
Há muito que aqui não vinha, é um facto, mas sonho que aqui voltarei não sei quando e escreverei sorrindo como um louco, não aquele que conheço há 32 anos... O outro.