segunda-feira, 22 de abril de 2013

Como se faz um pesadelo

Num país sonhado digno, reeinventado insuficientes vezes por quem o pensou e fez por ele, sobram sempre as ilusões mais ou menos vãs e uma insistente consagração de vitória. Talvez por esta última se alimentem tantas bocas ingratas, sujas e prostituídas que outrora cuspiram na glória dos afoitos e dos corajosos que sonharam. Hoje, são as mesmas bocas sorridentes que batem de palma no peito e vomitam as mais cruéis e assassinas palavras, encadeadas em discursos de trazer por casa, de troikas, déficits, ecofins, fmi's, entre tanta outra  lama que, sorrindo, atasca um país que se quis digno durante tanto tempo...
Hoje, parece fútil sonhar um país. Dizem uns que a globalização fez das suas, outros que a federação Europa é uma questão de tempo (logo que o sul se vergue definitvamente aos vizinhos de cima). Ser-se 'desinquieto' e inconformado é motivo de gozo. Caminhar numa manifestação de protesto é coisa de pedinte. Reclamar quando se tem razão parece desnecessário. Gritar com as veias a rebentar por uma cólera alastrada parece incipiente, como se um louco gritasse fechado dentro de uma caixa de acrílico.
E depois, no fim de tudo isto, ainda se surpreendem pelas excessivas reacções de quem sofre na pele, na carteira, na alma e, sobretudo, no sonho, os efeitos (dos mais nefastos que a história pode contar) de uma canalha que bateu nas costas de quem sonhou, que se acotevelou atrás para aparecer nas fotos de posteridade, e que burocratiza diariamente um país imaginado por si para espezinhar quem verdadeiramente faz do condado uma nação, todos os dias, sobrevivendo como pode ao olhar maquiavélico e sádico de quem domina o Terreiro do Paço, S. Bento e Belém como se um país se resumisse a três quarteirões, como se o mais iluminado dos sonhos de nada valesse, como se as gentes fossem instrumentos mudos e estúpidos da tecnocracia vaidosa e gananciosa chefiada pelos proxenetas e pelas meretrizes que tornam um sonho lindo num bordel reles de beira de estrada... 
Eu sonho.