segunda-feira, 11 de abril de 2011

"Ajuda externa" para brincarmos todos juntos!



Depois de ao fim de 31 anos não me cansar de ouvir o meu pai a desfazer-se em diatribes a cada aparição televisiva do Sr. Soares, constato que a socialice rosa mantém a bitola a um nível pouco ou nada recomendado. Depois de Governadores do Banco de Portugal, apologistas da privatização, cortadores de benefícios laborais e sociais (conquistados, não em Abril, mas nas revoluções do séc. XIX!), tecnocratas e descarados agiotas, surge ainda um engenheiro de fim de semana armado em salvador de uma pátria que há muito o deixou de ser.

Este é o país que se orgulha dos cravos sem sangue mas que o derrama, com sádica passividade, nas trincheiras de quem realmente luta no dia a dia para, pelo menos, salvar a dignidade possível. Culpar os mais mal pagos e mais explorados pela "falta de produtividade" e pela "tanga" é, no mínimo, irresponsável, mas permitam-me que acrescente mimosos adjectivos como sacana, nojento, vil e desprezível.

Trazer-se o FMI para ajudar a "salvar" o que resta é, em suma, o coroar da desonra com que esta canalha se emancipou das saias da mãe para brincar com os seus (boys) amigos aos ricos e aos pobres, arranjando para isso, brinquedos como bancos privados que são pagos pelo público, aeroportos e comboios de alta velocidade que ainda não arranjaram poiso fixo enquanto se afere quantos (boys) amigos poderão ganhar mais uns euritos com as expropriações... Até lá, o recreio continua, ainda que os "professores" façam alguns avisos, em vão. A rapaziada está energicamente entregue ao jogo, sem pausas para sandes e laranjadas, e com consecutivas vitórias, a ambição desmede-se a cada segundo...

É neste contexto que o altruísta FMI vai também ele sentar as carnes em cima do Zé Povo, com direito a flatulência e tudo! Caricato é parte do Zé ainda imberbe se fiar na Nossa Senhora e nestes estarolas e acreditar que a tão afamada "ajuda externa" sê-lo-á, na verdade. Mais, caricato é ver a alternativa "coelhina" cada vez mais inchada de bazófia e que não enjeita pegar nos dados para jogar um bocadinho. Diz que é a sucessão. Eu digo que será, para começar, a continuação. É que passado o tempo de adaptação (qual jogador da bola argentino!), a versão "orangina" do Sr. Engenheiro estará em pleno no tabuleiro e surpreendendo ou não o Zé Povo menos deslumbrado, "contratou" um reforço de peso para a jogatana ao "pote", o tal Nandinho que salvou vidas no Senegal e que estava farto da política partidária...

A festa continua, e agora juntam-se a nós, em jeito de intercâmbio, a malta fixe da UE e do Fundo. Como diria o Zeca (e ainda bem para ele que já não assiste a isto!), "traz um amigo também". Afinal de contas, o Zé Mário Branco, no Inverno de 1979, também estava a brincar quando escreveu o FMI ("consolida, filho, consolida!"), afinal o que a malta quer é ser animada... E no meio de tudo isto, ainda se chama "intervenção" a dois tipos vestidos à 70's ou a uma Deolinda que diz que é parva. A brincadeira, pelos vistos, começa cá por baixo, num grotesco analfabetismo cultural de um Zé Povo que teima em não aprender, em não votar, em não ser Povo... Talvez por se sentir atónito e sufocado pelas nalgas de quem se sentou e senta em cima dele? Talvez. Mas não só...

2 comentários:

  1. obrigado mano por mais uma visão acutilante e certeira... estou contigo!

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  2. Excelente Leitão, uma visão perfeitamente realista.

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