Se dúvidas ainda houvesse sobre em quem votar nesta contagem decrescente para mais uma destacada posição de miserabilidade do povo português, as televisões encarregam-se de esclarecer os mais atentos com sucessivas aparições dos "ilustres" beneméritos candidatos a perpetuar a pátria lusa tal como a conheço.
Falo em miserabilidade do Zé Povo, do ponto de vista de uma abstenção que se adivinha, no mínimo, anedótica. Creio que a ignorância se mescla muitas vezes com a estupidez natural de um Zé que ainda não interiorizou que a posição "Eu não confio em nenhum, não vou votar!" não é mais que um acto único de leviandade pouco mais que parola e que, em abono da verdade, não define posição nem tão pouco opinião. Bonito e original seria ver os vários candidatos, unidos, numa campanha de alfabetização em pleno horário nobre explicando ao Zé o significado da expressão "voto em branco"...
Mas não será sequer provável. Em vez disso, angustiar-nos-emos mais uma semana com a cadavérica presunção vencedora de Cavaco sorrindo, estático, a cada interpelação sobre o BPN, e com a nostalgia do Maio de 68 de um Alegre poeta com ataques de pânico quando se fala do BPP. Nobre medicina uma simpatia unânime mas descolorida, Moura é Defensor ainda não percebi bem do quê, o PCP lança para a corrida mais um dos nomes que ninguém se lembrará em Fevereiro (eu já tenho dificuldade em lembrar-me), e no meio de tudo isto, ainda temos um destemido madeirense a animar as hostes e, com efeito, a divertir o Zé Povo.
O circo está montado para mais um Domingo de festa e de passeios pelo Colombo, para orgulhosos democratas e faminta populaça ansiosa pelas 19h para saber das projecções. Portugal não vai parar, nem de perto nem de longe, até porque para mal dos pecados de muitos milhões, o Benfica não jogará certamente nesse dia. Logo, a ténue percentagem de cidadãos que levantar o nalguedo do sofá para perder 5 minutos e dobrar o boletim, será na manhã do dia 24, motivo de chacota pela larga franja de Josés e de Marias que acrescentarão ao "Não confio em nenhum, não vou votar", a provável terminação: "Parvo(a) és tu que ainda foste votar!".
E, no meio deste pestilento lamaçal de párias, ainda há quem se ofenda com a hipotética candidatura de Manuel João Vieira! Permitam-me uma brejeirice sulista: "Haviam de levar com um gato morto pelas ventas até ele miar!"... (pobre gato)
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