quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Fado está na moda (estudo nocturno)


"O Fado é a mais representativa forma de arte portuguesa". A frase não é minha mas subscrevo-a. Não sei muito bem é se os portugueses se orgulham de ser representados por "ele". É que a discrepância entre o que se diz e faz é tal que em inúmeras situações sou obrigado a concluir que a alma lusa tem muito mais afinidades com a música de Nel Monteiro ou do malogrado Dino Meira.
Pelo menos, e a avaliar pelo comportamento do Zé Povo face a essa música e ao Fado, assim avento, tais são as semelhanças! A brejeirice mais primária da ode constante ao alcoolismo (vertente defendida como primordial!), a berraria apelidada de conversa com a boquinha bem juntinha ao ouvido do receptor da mensagem (que entretanto, atento, abre mais umas cervejolas enquanto parece que - consta-se - está alguém a tocar e a cantar qualquer coisita) ou a chacota gargalhada permanente, sem se saber muito bem do quê ou porquê, muitas vezes proveniente de um rosadito de pança cheia, camisita amarelada salpicada de tinto e a clássica meia branca (eu gosto particularmente quando o conjunto se compõe com um casaco de fato de treino!) são condimentos essenciais para quem defende que o "O Fado é a mais representativa forma de arte portuguesa".
Mas noto que novos fenómenos ocorrem neste apetecível e enigmático mundo fadista... A par da gente plebeia, temos (pseudo)burgueses na casa dos 30/40 anos que assumem postura de septuagenários ainda ressabiados com Abril! Gostam de toiros (ainda que não saibam o que é uma "verónica" ou um "tércio"), usam camisa de marca estrangeira (tem que ser estrangeira nem que seja vietnamita), apregoam herdades e mil conhecimentos importantes (mesmo que não cheguem os 4 euros para beber um gin tónico, bebida fina no meio) e chamam a si a arrogância e o pedantismo para compôr um bouquet onde pontifica uma galopante estupidez (cá está a alusão taurina, tudo bem portanto), a ignorância inseparável da presunção e a convicção premente de que D. Duarte Pio é secretário geral do Partido Comunista e de que Louçã será o "tio" herdeiro do trono português...
Curioso é o facto de plebeus e burgueses partilharem a ode ao alcoolismo, a brejeirice, a berraria pegada, o desrespeito e a chacota... Imprescíndivel mesmo é um caldo verde (com "chóriço"), um tinto (Cartuxa ou Teobar) e uma "jola", mas tem de ser Sagres porque a malta é patriota!
E tudo isto porque o Fado é "a mais representativa forma de arte portuguesa"!
És grande Nel Monteiro...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A pobre vida do senhor doutor...

Estou, nesta precisa altura, no Centro Cirúrgico de Coimbra. O meu tio foi operado à vista e, desde aí, tenho vindo todas as semanas a este espectacular e desenvolvido pólo médico que dispõe de tudo do bom e do melhor para o paciente. Há hotéis que não têm a comodidade e as mordomias do local. Todavia, e à boa maneira lusitana, há aspectos que passam ao lado das preocupações prementes, uma vez que a mais importante de todas é o pilim, o cantante, o guito, a milena, o "faz-me rir", os belos dos euros que, aos milhares, os mais ou menos carenciados aqui depositam como se do BPP se tratasse.
O médico do meu tio cobra, por consulta, a módica quantia de 100€. Ora, estão na sala de espera cerca de 40 pessoas o que perfaz um total "simpático" para parte de uma tarde que já vai longa... Enfermeiras atentas e funcionárias prestáveis, todas com idades pouco avançadas são o horizonte ideal para arregalar a visão dos desesperados septuagenários que anseiam pela abertura da porta do oftalmologista.
A consulta estava marcada para as 15h e são, nesta altura 17h50. Estamos, pois, no bom caminho para bater o recorde de há duas semanas (uma espera de 3h30!). A sala, das 5 vezes que já cá vim, nunca a vi sequer a meio da sua lotação. O rebanho chega a toda a hora e, por 100€ por consulta, a medicina local deste Centro enriquece-se com a generosidade de sempre de quem sempre recebeu pouco mais que nada do Serviço Nacional de Saúde. António Arnaut, militante socialista que no início dos anos 80 preconizou, a solo, um SNS eficiente, foi vetado pelos seus camaradas, na hora, sem apelo nem agravo... é que ainda por cima no projecto de Arnaut, os senhores doutores da medicina eram obrigados a irem até ao interior da amada pátria, e isso não dá muito jeito porque não lá não há pilim ("Margem Sul, jamais... aquilo é um deserto!"), não há golfe, spa's, e o aeroporto para apanhar o avião para mais um congresso nas Maldivas fica muito longe...
Assim, nada como implantar um Centro Cirúrgico colado à A1, a duas horas de Lisboa, e a cobrar 100€ por consulta. Aglomera-se o rebanho, aperta-se mais um bocadinho e, um a um, deixando o respectivo honorário na "sorridente" caixinha registadora, lá vão voltando à miserabilidade da vidinha lusitana e aos ordenados mínimos...
Resta-me fazer menção que, nestas duas horas contabilizei cerca de 6500 euritos para o senhor doutor. Só o meu tio já cá deixou quantia semelhante, e agora acaba de entrar o senhor Garcia que veio de Viana do Castelo e chegou cá às 11 horas!... São18h05.
As Maldivas ficam a quanto tempo de Lisboa?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mário Soares... e mais palavras para quê?


É fantástico como a chamada "inspiração" nos pode vir do mais improvável dos destinos! Acordei cedo, nem sei muito bem porquê, e liguei o computador para consultar e imprensa... Saltou-me à vista um artigo de opinião de Mário Soares no Diário de Notícias criticando a "moda de se falar mal de Portugal". Depois de um olhar fixo e sem reacção, li o artigo, estupefacto pelo à-vontade com que este senhor(zinho) fala de um país criado por si e pela corja de esfomeadas sanguessugas que o acompanharam nessa galopante ascenção política que, para mal dos meus pecados, o Zé Povo nacional fez questão de amamentar...
Hoje tem uma Fundação, ontem rasteirou milhões de votantes e fez coligações com o CDS (atenção falo em 1982 e não em 2009...). O "Rei Gordo" jogou a política como poucos, jogou-a com a mestria e com o jogo de cintura de um cigano na Feira do Relógio (com o máximo respeito pelo cigano) vendendo um par de meias por tuta e meia e, se por sorte conseguir vender tudo, arruma a a trouxa e parte... E qualquer semelhança com a realidade é pura ficção.
A criação dos Recibos Verdes, o terminus da Lisnave, a priviligiada "amizade" com Angola são apenas alguns dos pontos que me fizeram nutrir e desenvolver este sentimento especial pelo "Marocas". Salazar chega a afigurar-se-me um tolerante democrata muitas vezes...
Pois é, "Sr. Pai do Socialice Portuguesa", a realidade do nosso querido país, não a crise porque nós não temos culpa dessa, é "lá de fora do estrangeiro" (!), é o reflexo nu de quem teve o leme numa mão (enquanto a outra se guardava no quentinho da algibeira) mas não conseguiu arranjar uma direcção assistida mais levezinha para, pelo menos, conduzir a nação até um lugar de estacionamento mais espaçoso...
Ao invés, ainda hoje colhem frutos de sementes "gentilmente" cedidas há mais de 30 anos, quando sorriam e erguiam punhos em defesa do Reviralho, abraçavam-se e chamavam camaradas a tudo o que mexia... O teu abraço a Cunhal no regresso à Pátria, que bonito, hein "Marocas"!... Desse abraço sobra apenas o respeito pela ingenuidade de Cunhal e o teu sorriso fraterno, honesto e leal, camarada Soares!... Aliás, virtudes que pautam a essência da actuação e dos seus fidelíssimos seguidores!... até aos dias de hoje.
Nota de rodapé: O filho do teu "mon ami" Miterrand foi caçado pela justiça francesa.

Caro Soares, critico Portugal porque sempre votei desde o recenseamento eleitoral e porque(ainda) tenho os meus impostos em dia. Não fujo ao fisco (embora desejasse que ele fugisse de mim) e venho da plebe e do que de mais nobre se ensina na classe... Há, pelo menos, duas gerações prejudicadas pela tua "defesa dos interesses da Pátria" e o curioso é que cada vez mais me sinto parte integrante desse vasto grupo. Falo mal do país que quiseste criar e conseguiste e não me calarei. Já tu, meu caro, uma vez que nenhum cigano te enche a boca com um par de peúgos de tuta e meia, ganha a sensatez de te calares nos poucos anos que te restam!... A tua Pátria agradece.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ratzinger no Sudoeste?


O primeiro contacto que tive com o mundo religioso foi com o Cardeal Richelieu, irritante personagem do saudoso "Dartacão". Uns anos mais tarde convivi com a morte dos meus avós e, em estreia mundial, o mundo religioso afundou-me em tradições e rituais pouco dados a quebras, quanto muito a quebrantos! Com o avançar da idade, a Ecclesia manteve dogmas e posturas, excepção feita a raríssimas tentativas de redenção como o pedido de desculpas de erros de outrora (coisa pouca, perseguições, assassinatos em praça pública e pouco mais), todavia e como se diz cá nas minhas bandas sulistas, são "sopas depois de almoço"! Lembro-me de uma frase de Thomas Paine que, nesta hora, me apetece citar: "A minha mente é a minha igreja". Perdoem-me, pois, os mais devotos...
Ainda que sem o chamamento divino, confesso que a dada altura a coisa até me parecia razoavelmente digna com o humanismo do Sr. Karol Wojtyła mas a cadeira de oiro maçiço de quem apregoa a igualdade entre os Homens e o fim da fome em África ficou então ocupada por Ratzinger e, num ápice, o grito emocionado "Habemus papa" deixou a jornalística visão do fumo branco no Vaticano para dar lugar a uma imagem antagónica... Ratzinger fez-se Bento mas com uma enigmática e perversa carpela de Führer... longe da mística que ainda julguei herdar do saudoso guarda-redes do Benfica. Bento deu agora em lançar discos e até a sagrada música celestial de claustro se converteu ao profano e ao sintetizador "amestrado"... Enfim, é o desenvolvimento, a evolução, a globalização, e mais uma série de desculpas (perdão, razões) acabadas em "ão"!... Quem a julgava retrógrada e obsoleta enfie a viola no saco (já temos o sintetizador!) e resigne-se ao florescimento de Ratzinger, o novo Padre Borga, potencial DJ dos festivais de Verão de 2010!!! Papa novus habemus!!! E os fiéis lá vão em romaria cantando e rindo... pelo menos até ele se lembrar de querer a Polónia só para ele. Heil!

Padres, diáconos, papas, beatas, bispos, arcebispos (entre tantos outros agentes da "engrenagem"), sem pedirem licença Ao Pai, definiram este como o dia dedicado aos mortos. Recordo a elevação, a tolerância, o altruísmo, a capacidade e o iluminismo do mais singular dos homens da minha história, o meu eterno e amigo avô Amadeu. Pouco dado a convenções e travessuras, foi ímpar num contexto salazaresco, sem a tentação de se apoiar sequer no reviralho político da época. Não pecisava simplesmente disso... A inteligência em mistura constante com o amor guiava incondicionalmente os seus passos. E guiou. E guia-me...
Amar-te, meu caro Amadeu, é um acto intemporal.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A evolução da espécie nacional... ou então não!

Crê-se em Darwin como o mais sábio estudioso da espécie humana. Mas a evolução (?) do homem espanta-me, por vezes, tais são os ícones que me remetem para uns milhares de anos atrás... A Maitê Proença que o diga, passando de diva, símbolo sexual ou coisa que a valha, para a mais reles e desprezível besta, "apenas" por falar e caracterizar o tuga, nomeadamente a eleição de Salazar como o homem mais importante do século XX (e acho que chega) por parte do povo lusitano... mas com sotaque brasileiro. O Herman fá-lo há anos e rimo-nos à boa maneira desdentada do Emplastro, mimando-o com saudáveis e cúmplices gargalhadas. Mas enfim... Nunca gostámos muito que sejam os outros a apontarem-nos defeitos, até porque, aos nossos olhos, poucos ou nenhuns teremos. Mas, ainda assim, para isso estamos cá nós.
Cuspimos e cuspimo-nos diária e consecutivamente. Os nossos telhados raramente são de vidro e, emiscuídos da modéstia presidencial, raramente temos dúvidas e nunca nos enganamos. Por isso podemos cuspir, e coitado daquele que não o faça! Panisgas!!!
Só temos razões para enchermos a peitaça ao mundo desenvolvido: temos o Sócrates como Primeiro, o Queiroz na selecção, o Isaltino em Oeiras, o Jaime Silva na agricultura... Temos motivos de sobra para transbordar o orgulho de soberba e da lusa vaidade de quem, com a altivez afonsina, defende os mais de 800 anos de história... e de estórias.
Mas temos mais... Temos escutas, o Vale e Azevedo a passear em Chelsea, o Padre Federico a mamar caipirinhas (atenção que eu não disse criancinhas!) em Copacabana, o Paulo Pedroso a deputar, o Barroso a sorrir-nos de Bruxelas, o Mário Soares a sorrir-nos de cá, e temos o Zé Povo a rir-se disto tudo, orgulhoso da nação que tem centenas de anos de história e que, agora, viu a sua boa honra ser beliscada por uma brasileira que, em tempos, o mesmo Zé Povo quis beliscar!
"Uma pessoa de vez em quando tropeça sobre a verdade, mas na maioria das vezes levanta-se e continua andando.", Winston Churchill dixit... Peço desculpa à alma lusa pelo autor ser estrangeiro, mas também não acredito que se refira aos portugueses... por certo que não! É que a verdade tratamo-la por tu, mal, mas por tu...
Maitê, vá diz comigo, "Façam favor de serem felizes"!
Assim, tudo bem...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Eis-me em desabafo!...

Serve este Reviralho para duas coisas: exercitar a escrita e a crítica que o jornalismo me negou há um punhado de anos, e desabafar. É precisamente nesta vertente que hoje me exponho. Por mais anos que avance na vida, a personalidade e o carácter, parecem-me, estagnados e isso irrita-me. Sou um imperfeito puro, um insatisfeito, intolerante comigo e com outros, repudio-me a mim mesmo muitas vezes. Dizem-me uns que tem a ver com o Zodíaco (Virgem). Outros afiançam que mais cedo ou mais tarde tudo melhora. Os mais chegados perdoam tudo e dizem-me ser uma pessoa do melhor que há.
Em jeito de dourada escalada aberta ao garfo e à faca, assim me exponho eu. Não procuro catarses nem respostas mais ou menos reconfortantes, inspira-me apenas o que sou para escrever qualquer coisa num fim de tarde periclitante, chuvoso e propício a uma espécie de auto-psicanálise. Tento fazê-la inúmeras vezes para mim mesmo, refugiado, mas acabo sempre num cigarro pensativo e nos acordes plangentes do tributo a Paredes do meu “mano” Custódio. Ele (e mais dois ou três), em jeito de alma gémea, diz-me de sorriso puro tudo o que penso mas não quero ouvir. E eu aguento-me. Ele tem quase sempre razão.
Amo e sou amado. Tenho casa, carro e (hoje em dia) trabalho. Tenho amigos e família. Tenho os discos que mais gosto, máquina fotográfica e de filmar, computador, comida e bebida, sou do Benfica, tenho ainda o Alentejo por morada certa e os de quem menos gosto a uma hora e meia de distância. Mas mesmo assim, chego mesmo a odiar-me. O que mais podia eu querer, diabo!?
É na felicidade que a melancolia mais entra, angustiada, gritada, cansada e indisponível para optimismos mais ou menos fundamentados. Por mais que tente (e tento-o há anos) tem sido sempre assim. À dança descontraída do reggae jamaicano (das poucas ocasiões em que me verão a dar um pezinho), responde quase sempre o “mano” Custódio… Bolas!
Há ainda o Fado, indissociável da escrita e que, juntos, me exigem a solidão de um estúdio para cantar madrugada fora e carpir esfomeadamente frustrações e ensejos (enquanto o Custódio me traz o Paredes aqui para o lado a dar-me umas palmadinhas nas costas!).
Meus amigos, perdoem-me esta lenga lenga, mas hoje estou particularmente aborrecido e transtornado comigo mesmo. Sinto-me o pior, incapaz, inconveniente, sinto-me a mais e com muito mais a dizer, mas poupo-vos a dissertações ridículas extra porque, afinal de contas, eu sou tudo isto… e, mesmo assim, o mais irónico e estúpido, profundamente estúpido, é que ainda gosto de ser como sou!
Certo, certo, é o amor que sinto por quem mais gosta de mim… inequívoco, leal e intocável.

A paz podre da lusa democracia

Depois de um sufrágio em que o Zé Povo se absteve uma vez mais da militância democrática que se lhe exige, Portugal acorda hoje para um novo ciclo político… o mesmo quer dizer que ficará tudo mais ou menos na mesma. O povo demitiu-se das suas funções e quem ganha com isso são naturalmente as dezenas e dezenas de senhoras e senhores deputados que, entre a altivez dos antigos do costume e o deslumbre dos virgens novatos, se perfilam como os novos salvadores da pátria, ajeitados agora de uma outra forma no parlamento, mas com os divertimentos e distracções de sempre! (eu acho que continua a faltar um SPA)
Sócrates ganhou. Louçã também, bem como Portas, Jerónimo e Garcia Pereira. Manuela Ferreira Leite – essa – não me surpreende que neste rescaldo ainda cante igualmente vitória. Mas o PSD é uma pequena e sempre animada caixinha de Pandora. Desta vez parece-me que, depois de aberta no mais que certo congresso que aí virá, dela sairá a versão social democrata “sócretina”, Pedro Passos Coelho. É jovem, com bom ar, liberal, e é tipo para saber dizer “porreiro, pá!” mais vezes que o Zézinho e falar incessantemente das pequenas (piquenas à moda da ainda líder) e médias empresas com a mesma regularidade do sorridente Portas.
Mas o que me deixa a pensar é o facto de 40% dos tão irados e revoltados tugas terem, afinal, ficado longe das urnas. O exercício mais optimista sugere-me a derrota (neo)socialista, resolvesse-se esta gente a tomar uma posição e a mentalizar-se de uma vez por todas que, ainda que não pareça, estamos em democracia e há o conceito de “eleitor” que, pelos vistos, nunca integrou o léxico popular. Lamento. Mas aguentem-se. Se cada um destes ousar protestar ou ofender o Sr. Primeiro, deve ser arrasado psicologicamente pelo eleitor (votante) mais próximo! Se for professor, enfermeiro, mineiro, pescador, agricultor, apresentador de telejornal, policia, funcionário público, ex-socialista, entre outros, entreguem-lhes apenas a inscrição no Partido Socialista. Com tão severo castigo, pode ser que da próxima vez se lembrem onde fica a escola primária local e a sua secção de voto.
Lembro-vos, pois, o slogan deste blog: “REVIRALHO – Um tal de Zé Povinho de consciência tranquila”. Já as senhoras e os senhores…
(Já agora, alguém sabe do Manuel Monteiro, daquele outro senhor do PNR e do Nuno da Câmara Pereira?)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Hoje voltei à ilha


Hoje nem sei muito bem porque escrevo, mas sinto que tenho de o fazer. Torna-se urgente de cada vez que me sinto assim: não sei como. Não é necessariamente mau mas também não é seguramente bom. Desde petiz que me habituei a passar para texto e verso o que a alma se inibe de fazer descer até à boca. Desespero periodicamente com esta incapacidade, uma vez que nos dotes da oratória sempre me (auto)classifiquei bem na tabela, porém é na ponta dos dedos que sempre me senti na praia certa… na “tal” em que a ilha é sempre deserta e em que o avião nunca dá por nós. É lá, como agora, que o mundo parece meu e que todas as decisões nem sequer padecem de ponderação. A mesma praia em que os pensamentos são sempre correctos e que faz parecer Sócrates (o filósofo) um mero discípulo de mim mesmo (passe a falta de modéstia)…
Como digo, nem sei muito bem porque escrevo mas simplesmente apetece-me. Lembrei-me de dissertar em torno das Legislativas mas, na verdade, hoje não consigo a lucidez desejável para os retirar a todos do saco azul da “filha da putice”. Sobre o Benfica pouco há a dizer, ganham e jogam à bola (mesmo o Aimar). Há ainda as escutas, a gripe A, a minha vizinha da frente cujo cãozinho se encarrega de me tirar o sono noites a fio, o pedantismo resistente da minha querida, mui nobre e sempre leal cidade de Évora, há o Obama e o Khadafi, o museu do Chiado que vai finalmente ser alargado… Hoje vão todos para o mesmo saco! Enfim, há uma panóplia de assuntos que, à partida, me suscitariam mil sentimentos para escrever sobre eles mas, hoje, estranhamente não me apetece. Aliás, com efeito, a única coisa que indiscutivelmente me apetece é escrever o “FMI” do saudoso Zé Mário Branco, mas esse sacrista descobriu a mestria com trinta anos de avanço! Apetecia-me escrever o “Cântico Negro” de Régio, o “Soneto da Fidelidade” de Vinícius, a “Liturgia do Sangue” de Ary… Será que eles escreveram tudo isso sem lhes apetecer? Falta-me veleidade e arrogância para acreditar nisso, mas sobra-me a vontade de me sentir capaz… mas não hoje, por certo. Sinto-me não sei como. E não me apetece escrever.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Em noite de aniversário...


Fiz 30 anos. Até aqui tudo bem, é a ordem natural da vidinha, mas o que realmente me faz espécie é o facto de a mesma vidinha parecer querer rasteirar-me ao jeito do saudoso Petit! É cruel e implacável o sadismo que me oferece sem nada em troca quando me esvazia o espaço outrora preenchido por dezenas de sorrisos e me entrega em bandeja de inox a uma gritante solidão.
Fiz 30 anos. Ora, vidinha, dá-me lá então uns aninhos de paz comigo mesmo, sem que me passe pela cabeça emigrar para a Sibéria ou para o Burkina Faso com bilhete de ida! Por vezes gostava de ser um simples rústico agricultor isolado por terras abandonadas de Amareleja ou um troulha de manga cava empunhando, orgulhoso, a vigésima Mini enquanto esmiuça, não o sufrágio, mas os resumos da II Divisão distrital e o desempenho do Cinfães na Liga... Chateia-me este vício de pensar demasiado, da preocupação latente, o querer respostas para ontem, irrita-me estar só e demasiado acompanhado, não compreender a adaptação do David Luiz a defesa esquerdo, irrita-me a busca incessante da felicidade suprema quando, segundo todos me dizem, "o que tiver de ser teu às tuas mãos virá ter"...
Fiz 30 anos. E depois? Depois (do Adeus) fica a melancolia de sempre, esta vontade tremenda de chorar envergonhadamente, fica a saudade que o Fado me ensinou sem piedade alguma, um inexplicável chamamento para me flagelar mesmo enquanto os que me amam me puxam para dançar a vidinha... a mesma que já me deu 30 anos. E depois?... Depois vêm os 40 e se tudo correr a favor da natureza, os 50... Mas, vidinha, imploro-te a paz, o amor e o desprendido sorriso. Só assim me farás sentido... um dia.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Infinitude

Aqui,
Onde floresço quando o sol rompe a janela
Como se o tempo me pintasse numa tela,
Lentamente…
Aqui,
Esta tristeza sensual é mais serena
Porque a saudade se respeita e não tem pena
De quem sente.

Aqui,
Melancolia semeada campos fora
Cantada ao povo e segredada a qualquer hora
À gargalhada de um sarcasmo ao pé da porta…
Aqui,
Sente-se o quente a apertar-nos a garganta
Nesta verdade desarmante que agiganta
A força louca da paisagem quase morta.

Aqui,
Desta janela onde se avista a liberdade
Diz-se que ainda vale a pena amanhecer
No mais mordaz silêncio que vivi…
Aqui
Torna-se urgente uma certa crueldade
Quando se parte sem chegar a conhecer
O doce encanto que roubei e ofereci...

... Aqui,
Onde o meu corpo não tem culpa e quer morrer!

(Sabe bem a catarse alentejana...)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Paciência

Angústia, dor e lamento
Intempéries de ventura
Sacrilégios da aventura
Em que sentimos a perda
Que perdura o sustento da ilusão.
Quebrou-se a magia.
Como um caco desprezado
De uma caneca vazia
Que nos passou mesmo ao lado.
Angústia, dor e lamento.
Já não sou eu que as invento
Em mais desgosto de amor.
São muito mais que palavras
Sentimentos,
Ou natural consequência
De um inferno atroz
Que me queima com fervor.
Paciência!
Pouco há para mudar.
Nasci para te amar!
Deram-te a mim por missão
E mesmo que haja um não
Dificilmente a razão
Me vai fazer afastar.
A vida é mesmo assim,
Angústia, dor e lamento.
Porque te quis para mim
Ou porque ainda temos tempo.

(Hoje é seguramente um dos piores dias de toda a minha vida)

sábado, 1 de agosto de 2009

Acabado de chegar ao ALLgarve...


Acabei de chegar ao Algarve! Albufeira bombeia vida por todos os lados. Gente, bifes, carros, restaurantes "sanguináreos", obras, por momentos o Algarve parece mesmo tornar-se cada vez mais no ALLgarve dos olhinhos do nosso Primeiro. Entrei no hotel há cerca de 30 minutos e arrisco a dizer que o vernáculo mais usado neste barómetro temporal não é tanto a lírica camoniana ou, num optimismo mais comedido, o "tá-se bem!" da jovial juventude. Na verdade, germânicos e ingleses (espero que sem gripe) sorriem enfartados quase mangando de um último tuga na ternura dos 40 que, em vão, (ainda) lhes tenta ensinar qualquer coisa em português, nem que seja o mais brejeiro dos calões. Aí é que seria vê-los com as mamocas a confundirem-se com as panças em cada gargalhada gelatinosa! Mas não. Isto já é território conquistado. Português pouco se fala e o mais perto disso é mesmo o dialecto ancestral de quem cá nasceu ou de esforçados indianos e marroquinos sedentos de liquidação total de rosas, balões, isqueiros, bonés com leds, entre outra bugiganga. Chego a imaginar-me a destapar jolinhas em Munique sem ser preciso esperar por Outubro ou a pavonear-me transpirando álcool pelas vielas de Picadilly. Pouca diferença.
Esperam pelos respectivos tranfers que os guiarão a Faro, de onde seguirão viagem aérea para novo destino (arrisco Maiorca ou Biarritz), ajeitam os calções bem acima das generosas barriguinhas, o peúgo branco separa os presuntos da sandália castanha em cabedal do melhor, souvenirs são algumas, t-shirts "I was in Algarve" e suor escorrido pelos peludos sovacos amenizam, todavia, a minha inquietação... Ainda nos queixamos nós da parolice dos nossos emigrantes de Agosto! É que, meus amigos, como vos disse acabei de chegar ao hotel.
Imagino a praia...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Alentejo

Ainda que a agrura florescente na aridez da sua terra “o” desfolhe em cada hora passada com a calma de quem sabe e pode esperar, que o tempo demore o tempo que for preciso a passar e que o sol se despeça todos os dias com a melancolia envergonhada de quem quer esconder a mais latente das tristezas, esta imensidão tremenda oferece à vida a pureza e a castidade perpétuas num canto superior, sofrido, genuíno e tocante.
Não “o” oiço mas a nossa linguagem não requer palavras, são simplesmente dispensáveis. Troco-as sem esforço pelo mais enigmático mas cúmplice dos sorrisos e por um murmúrio ventoso que se perde por entre sobreiros históricos meio despidos. Há entre nós a empatia natural de quem se ama e nem mesmo a solidão comum desta hora esmorece a importância que o silêncio de sempre detém numa relação arrebatadora e inqualificável. Assim sou eu e “ele”, um só em cada momento a sós. A vida faz mais sentido aqui, “do lado de cá da vida”, debaixo de um sol tórrido que, impiedoso, parece expulsar toda a vida remanescente… para que fique apenas eu!
A verdade é que vim até “ele” para estar sozinho e carpir…
Como sempre, “ele” não me deixa só.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A partida

Hoje a madrugada foi cáustica, insensível, dura, interminável. Ao fim de muitos anos, a sensação vazia da partida cravou-se novamente no meu peito da mais atroz das maneiras tolhendo-me de pensamentos e actos e sem espaço de manobra para sequer o arriscar fazer. Hoje a ideia egoísta e sobranceira do lado bom da solidão caiu redonda no chão ao bater das onze horas da manhã no aeroporto de Lisboa. Hoje sinto-me mais melancólico do que o costume. Mais fadista. Mais “eu”. Sinto-me capaz de escrever todos os poemas cantáveis e chegar a mil ideias em torno do verbo amar, mesmo que não as escreva nem cante, mas com dedicatória certa.
Hoje, mais do que nunca, grita-me aos ouvidos este silêncio mordaz e traz-te a mim com a força desmedida que nem um avião consegue diluir. Há lembranças, lamentos, sorrisos e nem mesmo uma ou outra lagrimita retiram encanto ao privilégio que me concedeste no nobre acto de te amar.
A partida, hoje, custou-me muito. Não te demores…

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Portugal no seu melhor


Não sou daqueles que desdenham a pátria, refutando-a com arrogância e preferindo uma satírica nacionalidade espanhola ou, em casos mais preocupantes, americana. Até porque em nenhum outro país existe uma região chamada Alentejo, não há migas, postas mirandesas, tinto da Cartuxa, verde minhoto, couratos, Minis, Eusébio, não há Tejo, fado, etc, etc, etc...
Mas há coisas neste lindíssimo país que ainda me deixam perplexo e meio estonteado. Li esta manhã num matutino nacional que os portugueses estão "pobres" e "desmobilizados" mas que, ainda assim, são "felizes". Malfadada passividade! Este é seguramente um dos crónicos e permanentes diagnósticos do nosso Zé Povo. E não é de agora. Ainda que a paixão fadista me inunde e me liberte, o fatalismo, a saudade, a indiferença são de entre as características nacionais, das que mais me transtornam.
Exige-se cada vez mais uma catarse purificadora que exclua unilateralmente do destino generalizado a linha abjecta que nos impuseram sem referendos mais ou menos eleitoralistas e a que nos adaptámos com a facilidade do costume, derrubando-nos todos os dias à saída da Qimonda, da Auto Europa, dos Centros de Emprego.
É factual o dispensável e desprezível contributo com que ao longo dos últimos 35 anos a nossa governação nos tem mimoseado. Antes, "António da Calçada" gozou o prato da estupidificação de gerações, orgulhosamente só, deixando para os vindouros a descoberta da escola e da formação. Hoje, os dados estão na mesa: a taxa de analfabetismo baixou mas ainda cá está bem evidente, a mortalidade ultrapassou pela primeira vez a natalidade, a vil crise já mora na nossa casa, o desemprego está extremado como nunca, Sócrates é Primeiro Ministro, Ferreira Leite é alternativa, e ainda por cima o Aimar continua no Benfica.
Optimismo e soluções para a nossa passividade ainda se encontram com mais ou menos esforço, mas reflecti-las no nosso quotidiano, ainda será possível?
Eu ainda sou novo. Perguntem a outro. Agora estou numa fase fatalista. Desculpem.

domingo, 28 de junho de 2009

Vamos brincar à política!


E ainda me chamam cáustico!? PS e PSD andam "à bulha" há não sei quantos meses para ver quem ganha o troféu para a Provedoria de Justiça. Comportam-se os deputados de ambos os partidos como crianças que disputam os mais valiosos bonecos da Playmobil, chamam nomes uns aos outros e, caso não cheguem a conclusão nenhuma, há ainda a possibilidade (muitíssimo forte) de fazer queixinhas ao Sr. Presidente da República que, com visível e incómodo e consternação, se embaraçou para pedir "juizinho" aos traquinas dos senhores deputados. Ai, ai que ainda apanham tau-tau! (Digam-me quando for isso, onde e a que horas!!!)
Mas como qualquer judiaria infantil, quando sentem os calos apertados e é eminente a perda do poder, logo se aprestam os intervenientes a fazer pazes, dar abraços, jurar amizade eterna e a evidenciar um altruísmo e um espírito de partilha dignos da Madre Teresa de Calcutá. Assim foi com PS e PSD. Depois da vergonha nacional, depois de um dos pioneiros do PPD (PSD), Jorge Miranda, ser chumbado precisamente pelo "seu" partido, depois desta questão de enorme relevância se banalizar e perder lugares na hierarquia dos noticiários, lá vêm eles pedir desculpas! Alberto Martins e Paulo Rangel protagonizaram mais um momento hilariante aparecendo - só faltando mesmo as mãos dadas e uma bandeirinha branca a acenar - bradando um acordo para eleger o Provedor de Justiça. Em boa hora meus santos! Bem hajam!
Mas uma coisa pergunto eu... Por que carga de água é que dois partidos que chamam a si o protagonismo da democracia e dos melhores valores da mesma excluem liminarmente os outros partidos políticos da nomeação? Mais um extraordinário exemplo da boa democracia e do vosso Bloco Central senhores deputados! Muito bem!
Mas como se não chegasse já de brincadeiras parvas, agora que esta disputazita está perto do fim, estes mariolas partiram para outra - a data das eleições. Epá, é espectacular a criatividade das crianças! Mas desta vez, o pai Cavaco não lhes deu muitas hipóteses... Vão fazer queixinhas à mãe Maria. Pode ser que ela meta uma cunha!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Jackson's Four

Mas então Michael Jackson não era aquele tipo odioso, pedófilo, vergonhoso para a comunidade negra que foi "fuzilado" pela opinião pública nos últimos 20 anos? O que não faz a morte a um tipo que vendeu mais discos que ninguém na história da música... Em meia dúzia de horas, voltou a abrir noticiários, chora-se de lés a lés, e até quem o odiou agora o coloca no pedestal artístico.
Não será apenas inveja e alguma preguiça mental?

A ancestral arte de seduzir... na feira

A dada altura de um jantar em plena Feira de S. João dei por mim a levar a cabo um pseudo-estudo sociológico, em jeito de BBC Vida Selvagem, sobre o comportamento masculino e feminino, enquanto mastigava entremeada e emborcava uns decilitros de sangria…
Notei com extrema facilidade a brejeira, em muitos casos barrasca, atitude masculina ao longo de toda uma noite, não claudicando na tentativa de engate permanente, nomeadamente depois de tratar os barris de Sagres por "tu". O curioso é que a postura, pouco digna mas assertiva, se revelou transversal na maioria dos casos e nas diversas faixas etárias. Uma espécie de irmandade. Cúmplice, roçando mesmo a entreajuda mais primária. Ainda que a marca da roupa, o corte de cabelo, as expressões, o dedo escolhido para coçar a virilha e o grau de discrição para o efeito, entre outros itens, diferenciassem os espécimes, a cobiça (inclusive da mulher alheia) e essencialmente as ganas relativas à possibilidade de acasalamento atingiram picos de desmedida loucura, proporcionando piropos de gosto duvidoso, frases e ditos à altura, babando-se, cuspindo, gritando, em muitos casos dançando até algo que - a espaços – se pareceu mesmo com o arrojo contemporâneo da arte. Álcool e estupidez natural a mais? Desencantem-se. Pura arte.
Pior foi comprovar in loco que na ala feminina havia, em número considerável, reprovável reciprocidade.
David Attenborough, parece-me, anda a perder tempo na Tanzânia e no Serengheti! É que, face ao que vi, as disputas animais por terras de África pela tão desejada cópula, são meros lirismos lamechas que envergonham o vigor e a virilidade desta gente que dos 15 aos 60 anos (optimismo meu) me deleitou com um espectáculo maior durante uma noite inteira… bem ao jeito da Idade Média. Aplauda-se, pois, com a veemência Shakespeariana. O futuro das gerações é risonho… Chiça!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Slow Food"... estou sempre a aprender!

Outro dia, num destacado hotel de Évora deparei-me com um novo conceito. Chama-se "Slow Food" e consiste em ter à mesa meia dúzia de gente com apetite mas que tenha todo o tempo do mundo para jantar, pelo menos assim me pareceu de cada vez que olhava para a mesa e os via, calmíssimos, como se os ponteiros do relógio não os contemplassem na fina arte de envelhecer.
A ideia é degustar convenientemente todos os alimentos, ingredientes, temperos, acompanhamentos, bebidas, sobremesas, entradas... E tudo isto equivale a dizer que o jantar começou às 20h30 e já passavam duas dezenas de minutos das 2 da manhã quando este "gourmets" pousaram definitivamente os talheres (não percebi bem se algum deles se deixou entretanto dormir durante a refeição).
Inquietou-me. A ideia é salutar e num tempo como o nosso louve-se quem pensa, pelo menos, em passar algum tempo à mesa sem que seja apenas para enfardar uns milhares de calorias rapidamente e beber 1 litro de Cola, antes de o sofá nos tornar a abraçar como se não houvesse amanhã. Porém, o tempo é um bem precioso e, nos dias de hoje, urge de uma forma - parece-me - inédita. Quase não temos tempo para um real beijo, ou para dizermos a quem amamos o que sentimos, dado que o autocarro está a partir, estamos atrasados, as Finanças fecham cedo ou o jogo do Benfica está a começar e nem sequer dispensamos os anúncios da Sotinco e da Sagres que o antecedem.
Parece-me então natural que um conceito como o "Slow Food", uma vez mais, tem entrada directa no top da vasta lista de vaidades que os mais requintados tugas têm compilado história fora e que se enriquece diariamente com "anexos" gourmet cosmopolitas e sempre, sempre na moda. Veja-se, por exemplo, uma Açorda Alentejana ou umas Sopas de Tomate, outrora comidas plebeias e "baratuchas". Hoje perfilam-se como protagonistas de inúmeros menús dos mais distintos restaurantes... Mas isto seria assunto para discutirmos todos num jantar das 20h às 2h. Para já, sugiro um brinde como entrada! Bom apetite!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

25 de Abril em Outubro... Porreiro pá!


Venho, por este meio, pedir a quem me lê que informe o nosso Primeiro que - sim! - o resultado das eleições europeias são o barómetro da cada vez mais provável derrota de Outubro próximo. Chega a ser hilariante a forma toureira com que Sócrates se esquiva do humilhante resultado do PS, ludibriando e desfiando argumentos para justificar o injustificável.
É incontornável a insatisfação do Zé Povo, e isso ficou provado, por exemplo, nos 9% de votos brancos, sinal de que, a par do Sr. Engenheiro, também os outros líderes com assento parlamentar estão, no mínimo, ao mesmo nível. Sintomático, digo eu.
O CDS promoveu uma moção de censura ao governo "rosinha", mas nada feito. Portas e Melo, em jeito de casal "uno", sempre de acordo e trocando aplausos e sorrisos apaixonados aquando dos respectivos discursos, acusaram, pediram explicações, exigiram... PSD foi atrás. PCP, Verdes e Bloco ficaram na retranca, apenas para não os acusarem de estarem a virar à direita... Triste política. Triste sorte...
Falta a coragem e a obstinação de Salgueiro Maia, faltam os sonhos de Abril, a cultura e a moral de mãos dadas e sem tabús, faltam líderes de carismo firmado e afirmado, falta sempre algo para, 35 anos depois, proporcionar a real e indefectível liberdade. Sem canalhice refinada, sem obscura leviandade, sem a orgânica e visceral inércia do funcionalismo público, sem os salpicos de merda perfumadamente "Dior" que se espalham em cada inauguração pré-eleitoral... mas com um Zé povo de consciência tranquila. Outubro deveria ser a efectiva revolução, mas dizem-me os astros do Prof. Bambo (ou a minha consciência tranquila) que isso fica, à boa maneira lusa, para depois. Entretanto cá nos desenrascamo-nos. Disse.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Fado Menor


Alguém me consegue explicar porque razão se enaltece agora, a sete palmos de terra, a Diva que foi considerada fascista e comunista, que traíra o Fado ao trazer eruditos e um francês para a "canção nacional", que nos nos trocou pelo Mundo, entre tantas outras barbaridades que se disseram ou, por cobardia, apenas se pensaram?...
Hoje há filmes, peças de teatro, tributos discográficos, homenagens mil, uma fundação, uma casa-museu, ruas com o seu nome, lágrimas e saudades, e até me quer cá parecer que qualquer dia vão mandar fazer uma réplica em cêra... Notáveis mais ou menos dúbios agarram-se emocionadamente à sua imagem, espreitando de esguelha para a conta bancária, não vá ser preciso realizar mais uma gala ou nova homenagem.
Pobre Amália, mulher ainda hoje incaracterizável que deu a este país o protagonismo e a justiça cultural incondicionais. Mulher sem escola que escreveu verdadeiras obras "lusíadas". Mulher sofrida que fez o Fado como ninguém e abriu o caminho, alargado agora por novos e novas "Amálias", acotovelando-se na sangria desatada do sucesso.
Nunca é tarde, diz-se, mas a verdade nua e crua é que o aforismo não se justifica desta vez. É tarde, muito tarde para uma estranha forma de vida pautada pela medíocridade de um país que nunca te mereceu... que não te merece. Merecias mais, Amália, muito mais...

Zé Manel... a fada nacional

E eis que como se de magia se tratasse, o Zé Manel passa de besta a bestial em meia dúzia de anos. O homem que começou no MRPP, que personificou "cavaquices" além fronteiras, chegou a líder do PSD e voltou costas aos seu querido e amado Portugal partindo para a Europa globalizada e globalizante. Mas quando muitos festejavam efusivamente o fecho do ciclo, o Zé Manel presenteia o - já de si - tristonho, enfartado e descrente Zé Povo com a consagração de Santana, o Lopes que outrora presidira em Alvalade e afundara as Câmaras da Figueira da Foz e da capital. Apre, é preciso coragem!
Antes, porém, Zé Manel ainda tem tempo para calçar as luvas brancas e servir um Porto, de papillon aprumado, a Bush, Blair e Aznar, três "matulões" que se deliciaram e encheram as panças com os encantos açoreanos, enquanto entre canapés, croquetes e tintol de grandes colheitas, decidiram como exterminar um país chamado Iraque que, por mero acaso, atesta milhões de depósitos das limousines destes estarolas. Zé Manel, esse, desdobra-se em múltiplas facetas e depois de servir a refeição, recolher a passadeira vermelha que cedo estendera, lavar a loiça e devolver o papillon ao motorista, deixou o "filho nos braços" do grande Santana... praticamente à saída da Kapital.
Partidos da esquerda à direita denunciaram a "fuga" e gritaram a altas vozes em plenário, lembrando mesmo uma sessão parlamentar na Coreia ou nas Américas sulistas.
Passam-se os anos e agora aplaude-se e recomenda-se a reeleição de um "monstro mau" que - pela história - se tornou numa espécie de Tinkerbell... mas esta fugiu ao Peter Pan. Pobre coitado...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A estranha teoria do enriquecimento, por CR7


Absurdo para uns, impressionante para outros e muito delicioso para quatro. O Manchester United, acusado há anos de ter dispendido cerca de 17 milhões de euros por um rapazola franzino de uma equipa qualquer do bairro de Alvalade, em Lisboa, está hoje mais rico que um totalista do euromilhões, usufruindo de tudo o que o "7" lhe proporcionou. Jorge Mendes, empresário, esfrega, mais uma vez, as mãozinhas suadas de contentamento e de um nervosismo latente de quem está para abraçar carinhosamente mais uns euritos (e ainda por cima ganhos com os pézinhos de outro). Além destes, há ainda Cristiano Ronaldo, o "Melhor do Mundo", o menino birrento que se esquece fácil e regularmente que uma equipa de futebol tem mais 10 tansos que jogam, não para, mas com ele. Expoente máximo de vaidade, pedantismo, bazófia, altivez, presunção, enfim, de tudo aquilo que está facilmente ao alcance de um gaiato - na idade e não só - que passa a receber 25 mil euros por dia, apenas porque dois ou três espanholitos se lembraram de oferecer ao clube de George Best (esse ganhou e gozou os milhões como ninguém!) uma quantia que equivale, por exemplo, ao quíntuplo do orçamento anual do futebol do Sporting. Curioso, no mínimo. Escandaloso, no máximo.
E o quarto sortudo a ganhar com tudo isto é precisamente o Sporting que ganha uma bela maquia pelos direitos de formação. Que pena a Academia de Alcochete não ter um Curso Superior com cadeiras de Humildade Aplicada, Ateliers de Bom Senso, entre outras opções académicas que enriqueceriam verdadeiramente - acima das algibeiras - os parcos cérebros de rapazolas como o "CR7" ou, noutro caso mais próximo, Miguel Veloso. Só que o outro é o melhor do Mundo e este convence-se que é, pelo menos, o mais giro.
É tudo uma questão de realidades...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Manuela Moura Guedes Bastonária?...

Manuela Moura Guedes e António Marinho e Pinto. Num duelo ao início de noite de uma recente sexta-feira, brindaram-nos com um espectáculo digno de gladiadores. Faltaram os leões e o sangue, é certo, mas a obstinação e a bravura estiveram sempre lá, muito coração e quanto a razão, pouca ou nenhuma (não houve tempo). Ele foi eleito pela maioria dos advogados, mas os advogados não gostam dele e querem-no ver pelas costas. Ela não foi eleita - muito mais fino! - foi "nomeada" pelo sr. Director da estação televisiva que serve com muito amor. Marinho Pinto é emotivo e populista. Manuela é uma tentativa falhada e inquietante de mau jornalismo... Veio o Conselho Deontológico e classificou a sua conduta como "reprovável".
A troca de mimos entre ambos foi acalorada e - passe a redundância - mimou os telespectadores mais sanguinários, ávidos de batalhas como esta. Ela chamou-lhe "bufo". Ele ripostou e classificou simpaticamente o seu jornalismo de "vergonhoso". Como se não bastasse, e já depois do Sr. Bastonário ter abandonado o "recinto", o seu lugar foi ocupado por Vasco Pulido Valente, o mesmo quer dizer que o nível se manteve por baixo, pelo menos até começar a "Flor do Mar"...
Sugestão minha: Manuela Moura Guedes a Bastonária da ordem dos Advogados! (consta que ela até estudou direito) Marinho Pinto a pivot de informação!
Factos: Advogados e jornalistas ficariam certamente radiantes.

Benfica à Benfica!


Agora que o cavalheiro andaluz fez as malas e está de partida, chega a Lisboa o bíblico Jesus, homem latino, de sangue fervilhante e discurso pronto mas quase sempre errante. É provavelmente a antítese do Señor Quique, a outra face de uma moeda que, para não variar, custa ao "Maior Clube do Mundo" (reparem que eu não disse melhor) mais uns milhões de euros e que continua a envergonhar a memória de homens como Borges Coutinho, Fernando Martins, entre outros...
Entretanto, o Sr. Presidente Vieira prepara a encenação completa para no dia 3 de Julho ser (re)empossado para liderar a instituição mais uns anitos. E agora é que vai ser...
Abram-se as Minis e metem-se ou couratos nas carcaças que a festa vai ser a do costume. Gritos e cânticos sentidos e bem bebidos à "Família Benfiquista", hectolitros de transpiração camionista, saliva cuspida por intervenções de emoção. E lágrimas, há sempre muitas lágrimas...
A noite, se tudo correr bem estará quentinha, e no final, Vieira será levado em ombros pelos sócios com habilitações literárias até à 4ª Classe, enquanto espumando das bocas raivosas os membros dos No Name Boys (que curiosamente nem sócios são!) mandam o "novo" Presidente para todo o lado, menos para casa.
E, no meio de tudo isto, Rui Costa mantém-se como o Messias de um futuro glorioso. Jesus vem salvar-nos do mal. Pinto da Costa deve renovar contrato para o papel de Judas... E a equipa de futebol, em jeito de rebanho, lá vai inerte e imúne aos desenvolvimentos, ajeitando e sugerindo penteados para a nova estação como "papoilas saltitantes", marcando sessões fotográficas e viagens para os seus países: Uruguai, Paraguai, Brasil, Grécia, Serengheti, Botswana, Burkina Faso... Há ainda dois ou três jogadores portugueses que ficam por cá.
Mas este ano é que é!

domingo, 7 de junho de 2009

Europa, aí vamos nós!!!

Mais uma vez, o eleitor nacional puxou dos galões de parasitismo e medíocridade e resolveu ir a banhos em dia de sufrágio. Até parece mentira que em pleno desenvolvimento de planos tecnológicos, ainda ninguém tenha tido o bom senso de instalar sistemas de votação wireless na Caparica, no Guincho e, claro está, no ALLgarve onde deve estar metade dos eleitores que diariamente se insurgem contra quem nos governa e com o futuro da nação...
Mas tirando isso, temos um PSD vencedor e uma Manuela Ferreira Leite rejubilante com a possibilidade de repetir a proeza em Outubro. Temos um Bloco em crescendo. Um CDS vaidoso. Um PCP raivoso. Nacionalistas esquecidos. Anarquistas banidos. Independentes tranquilos. E, claro, chegados ao fim de mais um "circo", palhaços e acrobatas repousam heroicamente depois de terem entretido o Zé Povo que, mais uma vez, se deliciou com meia dúzia de párias a quererem decidir-lhe a vida...
E feitas as contas, o Zé continua a ter aquilo que merece.

"BIME"

Decidi, por bem, entregar o primeiro louvor do Reviralho à Bienal Internacional de Marionetas de Évora. Impressionante o que vi esta tarde. Bom gosto, arte, interesse, e dezenas de criancinhas acompanhadas por progenitores a usufruir de um espectáculo que visita Évora há 20 anos e que me encantou muitíssimo... Ah! Segundo me constou deve ter sido o último ano da sua realização. Mas isso é, para não variar, apenas um pormenor.

sábado, 6 de junho de 2009

Albânia, a potência!



Hoje, mais uma vez, Portugal inteiro fez de uma pequena nação chamada Albânia a "Laranja Mecânica" dos anos 70. Gigante, implacável, sádica e instransponível. Pelo menos foi este o quadro que se pintou. E se não é menos verdade que cá para mim esperava que o nosso Benjamim (agora capitão) CR7 e mais 10 ganhassem destemidamente o alento para o futuro, a realidade é que, mais uma vez, fomos pequenos, ainda que vencedores, mas vencidos por aquilo a que José Gil apelidou de "O medo de existir".
À boa maneira lusitana, falta determinação, arreganho e pertinácia para que se assuma seja lá aquilo que for.. Um Mundial de futebol, mas podia ser também um par de meias ou um pires de tremoços, se bem que neste último caso somos, como se sabe, ímpares e sábios.
Somos limitados no sonho, medrosos no risco, e numa verdadeira "entrada e pés juntos fora de tempo" cremos vergonhosa e implicitamente que somos sempre os mais que tudo do Zé Povo e que a descoberta de Novos Mundos do quinhentismo saudoso se perpetua, hoje, nas chuteiras do "Melhor do Mundo" (cá está!) do futebolismo. E assim, com a arrogância que nos distingue enquanto latinos e com a sobranceria secular de sempre, esquecemos o suor e a obstinação da luta pela vitória... preferindo naturalmente a moral e os bons costumes de eternos vencedores.
E é assim que a Albânia se nos parece, por um dia, como uma das mais poderosas selecções mundiais. Ou não.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Esta Lisboa que eu amo"



Amor e ódio. Assim é a minha relação com a cidade que me viu nascer. Hoje, daqui do sulista horizonte alentejano até Ela me parece mais bela. E a verdade é que não me lembrava do quão contagiante e sensível pode ser uma urbe cosmopolita como esta...
A vista? É do espantoso terraço do Silk, um bar bem no centro do Bairro Alto, curiosamente o bairro que sempre ateimou em me fazer lembrar a viagem para lá da ponte... até ao Alentejo, motivo de paixão, de paz e de uma tremenda e arrebatadora ilusão de que tudo pode ser e tem o direito divino ou legítimo a ser perfeito... tal como Lisboa, lembrada daqui.

O meu plano tecnológico... ou a razão do Reviralho

Cedi finalmente à tecnologia! Afinal, outra coisa não seria de esperar. Já tenho e-mail (dois até!), estou registado em redes sociais, consulto a imprensa on-line e, claro, só faltava um blog... Reviralho é sátira, desabafo, crítica, mas dificilmente será apoio (como se fosse preciso explicar porquê!).
Este acaba por ser o meu próprio plano tecnológico, não com a ajuda de Magalhães, mas com o estoicismo de quem desespera por um Portugal que imaginou - eufemizando - diferente... A verdade é que desde que me conheço como cidadão eleitor, vi passar pelo "poleiro" uma série de ilustres bons rapazes, uns mais sorridentes, outros de acérrima e reconhecida má disposição. Corrupção tem rimado quase sempre com nação, e nem mesmo a liberdade se erradica da saudade que nasceu com um "artista" que resolveu bater na mãezinha e que hoje se ri lá de cima como se o Condado feito feudo fosse mito da vizinha... não da vizinha Espanha que essa faz de Zapatero e de Sócrates irmãos siameses que arrasam de vez com o aforismo "(...) Nem bons ventos nem bons casamentos".
Temos o BPN, o BPP, o Alberto João, o Santana, entre tantos outros. Há ainda o arrependido Oliveira e Costa, o casto Dias Loureiro, o birrento Manuel Alegre, mas lá do cimo da azinheira, qual Nossa Senhora, mantém-se o puro e tranquilo Zézinho, imúne à falácia, ao tal de Zé Povinho, à concorrência política sanguinária, mesmo ao Freeport!... isso é coisa do passado...
Assim, restai-nos, pois, o ensejo de um crescimento mental e cultural. Só daí advirão os outros.
Reviralho, mais que um desabafo, a consciência sadia do Zé, não do Sr. Primeiro, mas de quem o quiser ser... ou puder!