sexta-feira, 25 de maio de 2012

A meio passo da loucura...

O desespero irrompe como nunca, inclemente, destruindo os mais belos sonhos que construí no fim da adolescência, quando me imaginei a amar de sorriso estampado nas ventas! Hoje, como há muito não o queria reviver, entrego-me aos braços enrugados e peludos da loucura, desbravada em mim com a impiedosa dor que me castiga a alma e o corpo!
Quedo-me à força bruta do destroço mais cinzento e ardido, prostrado à solidão, à enchurrada de lágrimas e de frustração que me inunda a sala alentejana de meus pais, onde falta o meu avô Amadeu! E que falta me fazes! Escondo-me aqui, no que resta da minha Irlanda e de um maço de cigarros outrora partilhado. Esqueço-me de ser feliz. Já nem sequer me procuro. "Meu Deus!", quem me dera que me fosses real em mim, que habitasses esta maldita sala alentejana que me traz o fel que há muito tempo não me temperava!
Já nem sequer me arrisco a dizer que é melancolia, porque já a ultrapassou há muito. O precipicio da loucura é ventoso, fustiga-me como mil punhais sangrando-me o corpo num acesso sádico e tremendo de gargalhada!
Perdoe-me quem não mereceu de mim a nobreza que ofereci a outros. Garanto-vos que não foi por mal, jamais! Castiguem-me, se quiserem, será justo. A dor e a angústia unem-se como há muito não o faziam! Hoje, sugeriram-me o desespero, "beijaram-me" como nunca Judas o ousou fazer. Riram-se, juntas, na minha cara chorada por mil saudades do que nunca fui e pelo desgosto latente do que sou! Porque é que, por uma vez, não sigo a intuição e me defendo da queda!?
Puta que pariu a seriedade, a nobreza, o cavalheirismo, o sentido de humor, a escrita, a voz, a camaradagem, a educação, o charme, a postura! Puta que pariu a inteligência, a cultura, o canto, o toque, o fado! Puta que pariu o futuro!
Então e eu? Então e a reciprocidade? E a cumplicidade? E a verdade??
A verdade é que não sou mais do que um tormento gotejado em cada nota de um Fado Menor, um fardo de mim mesmo, um sonho triturado pela maquiavélica engrenagem de um mundo pequeno demais para quem ama. As pessoas já não amam! É coisa que dá trabalho, e isso chateia... As pessoas omitem, iludem, dão palmadinhas nas costas e acham lindos os nossos sonhos, acham sempre lindos. Porque são nossos, e isso não lhes dá trabalho nenhum. Faz-se o elogio da misericórdia, como se esse fosse o caminho natural para nos abortar o desespero. Puta que pariu a misericórdia! Então e eu?
Eu? Eu tenho passado a vida a iludir-me com a certeza da ode ao amor, de que tudo faz sentido por aí. Eu dou os meus cento e tal quilos em entrega total e disponibilidade para estar, ser o primeiro ajuda, para amar desinteressadamente. Mas isso é pedir demasiado, dá muito trabalho!... E mais trabalho dá aturar um tipo armado em lírico que deseja apenas ser feliz... amando.
Ganha-me a ilusão. E nada mais.
E hoje, mergulhado num misto de álcool, desgosto profundo, frustração, e uma revolta desmedida, sou apenas aquilo que, afinal, tenho sido toda a vida: um tipo charmoso que recebe elogios múltiplos de meia dúzia de pessoas, discreto, triste, frustrado, que cada vez menos se ilude com o desfecho dos sonhos. Puta que os pariu!
Então e eu? Eu fico, uma vez mais, comigo. Vencido. Por amar...

3 comentários:

  1. Já vi acontecer, muitas vezes, mais do que a vida devia permitir, somos Cyranos em um mundo de Christians. Um dia vamos aprender e nesse dia olharemos a vida de frente e simplesmente lhe diremos, "puta, eu venci.".

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  2. Dá trabalho a quem nao ama...
    O amor...esse, é simples. As pessoas é que complicam, arranjam desculpas para nao se entregar, arranjam defeitos estupidos no outro, confundem o amor com falta de liberdade...no fim de contas, ou se gosta, ou nao. Simples. E quando se gosta, nao ha desculpas, ha vontade!
    E sofrer por amor sera sempre melhor que nunca ter sofrido por nada...

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