quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Hoje voltei à ilha


Hoje nem sei muito bem porque escrevo, mas sinto que tenho de o fazer. Torna-se urgente de cada vez que me sinto assim: não sei como. Não é necessariamente mau mas também não é seguramente bom. Desde petiz que me habituei a passar para texto e verso o que a alma se inibe de fazer descer até à boca. Desespero periodicamente com esta incapacidade, uma vez que nos dotes da oratória sempre me (auto)classifiquei bem na tabela, porém é na ponta dos dedos que sempre me senti na praia certa… na “tal” em que a ilha é sempre deserta e em que o avião nunca dá por nós. É lá, como agora, que o mundo parece meu e que todas as decisões nem sequer padecem de ponderação. A mesma praia em que os pensamentos são sempre correctos e que faz parecer Sócrates (o filósofo) um mero discípulo de mim mesmo (passe a falta de modéstia)…
Como digo, nem sei muito bem porque escrevo mas simplesmente apetece-me. Lembrei-me de dissertar em torno das Legislativas mas, na verdade, hoje não consigo a lucidez desejável para os retirar a todos do saco azul da “filha da putice”. Sobre o Benfica pouco há a dizer, ganham e jogam à bola (mesmo o Aimar). Há ainda as escutas, a gripe A, a minha vizinha da frente cujo cãozinho se encarrega de me tirar o sono noites a fio, o pedantismo resistente da minha querida, mui nobre e sempre leal cidade de Évora, há o Obama e o Khadafi, o museu do Chiado que vai finalmente ser alargado… Hoje vão todos para o mesmo saco! Enfim, há uma panóplia de assuntos que, à partida, me suscitariam mil sentimentos para escrever sobre eles mas, hoje, estranhamente não me apetece. Aliás, com efeito, a única coisa que indiscutivelmente me apetece é escrever o “FMI” do saudoso Zé Mário Branco, mas esse sacrista descobriu a mestria com trinta anos de avanço! Apetecia-me escrever o “Cântico Negro” de Régio, o “Soneto da Fidelidade” de Vinícius, a “Liturgia do Sangue” de Ary… Será que eles escreveram tudo isso sem lhes apetecer? Falta-me veleidade e arrogância para acreditar nisso, mas sobra-me a vontade de me sentir capaz… mas não hoje, por certo. Sinto-me não sei como. E não me apetece escrever.

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