quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Fado está na moda (estudo nocturno)


"O Fado é a mais representativa forma de arte portuguesa". A frase não é minha mas subscrevo-a. Não sei muito bem é se os portugueses se orgulham de ser representados por "ele". É que a discrepância entre o que se diz e faz é tal que em inúmeras situações sou obrigado a concluir que a alma lusa tem muito mais afinidades com a música de Nel Monteiro ou do malogrado Dino Meira.
Pelo menos, e a avaliar pelo comportamento do Zé Povo face a essa música e ao Fado, assim avento, tais são as semelhanças! A brejeirice mais primária da ode constante ao alcoolismo (vertente defendida como primordial!), a berraria apelidada de conversa com a boquinha bem juntinha ao ouvido do receptor da mensagem (que entretanto, atento, abre mais umas cervejolas enquanto parece que - consta-se - está alguém a tocar e a cantar qualquer coisita) ou a chacota gargalhada permanente, sem se saber muito bem do quê ou porquê, muitas vezes proveniente de um rosadito de pança cheia, camisita amarelada salpicada de tinto e a clássica meia branca (eu gosto particularmente quando o conjunto se compõe com um casaco de fato de treino!) são condimentos essenciais para quem defende que o "O Fado é a mais representativa forma de arte portuguesa".
Mas noto que novos fenómenos ocorrem neste apetecível e enigmático mundo fadista... A par da gente plebeia, temos (pseudo)burgueses na casa dos 30/40 anos que assumem postura de septuagenários ainda ressabiados com Abril! Gostam de toiros (ainda que não saibam o que é uma "verónica" ou um "tércio"), usam camisa de marca estrangeira (tem que ser estrangeira nem que seja vietnamita), apregoam herdades e mil conhecimentos importantes (mesmo que não cheguem os 4 euros para beber um gin tónico, bebida fina no meio) e chamam a si a arrogância e o pedantismo para compôr um bouquet onde pontifica uma galopante estupidez (cá está a alusão taurina, tudo bem portanto), a ignorância inseparável da presunção e a convicção premente de que D. Duarte Pio é secretário geral do Partido Comunista e de que Louçã será o "tio" herdeiro do trono português...
Curioso é o facto de plebeus e burgueses partilharem a ode ao alcoolismo, a brejeirice, a berraria pegada, o desrespeito e a chacota... Imprescíndivel mesmo é um caldo verde (com "chóriço"), um tinto (Cartuxa ou Teobar) e uma "jola", mas tem de ser Sagres porque a malta é patriota!
E tudo isto porque o Fado é "a mais representativa forma de arte portuguesa"!
És grande Nel Monteiro...

1 comentário:

  1. Cada um de nós, meu amigo somos "representantes de forma de arte portuguesa"...acho que o melhor é mesmo não generalizar e olha... temos de tudo a Bimbolandia, burguesiolandia...enfim isto afinal não passa de um parque de diversões...Mas há coisas Tão BONITAS!!!!!

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