segunda-feira, 15 de junho de 2009

Fado Menor


Alguém me consegue explicar porque razão se enaltece agora, a sete palmos de terra, a Diva que foi considerada fascista e comunista, que traíra o Fado ao trazer eruditos e um francês para a "canção nacional", que nos nos trocou pelo Mundo, entre tantas outras barbaridades que se disseram ou, por cobardia, apenas se pensaram?...
Hoje há filmes, peças de teatro, tributos discográficos, homenagens mil, uma fundação, uma casa-museu, ruas com o seu nome, lágrimas e saudades, e até me quer cá parecer que qualquer dia vão mandar fazer uma réplica em cêra... Notáveis mais ou menos dúbios agarram-se emocionadamente à sua imagem, espreitando de esguelha para a conta bancária, não vá ser preciso realizar mais uma gala ou nova homenagem.
Pobre Amália, mulher ainda hoje incaracterizável que deu a este país o protagonismo e a justiça cultural incondicionais. Mulher sem escola que escreveu verdadeiras obras "lusíadas". Mulher sofrida que fez o Fado como ninguém e abriu o caminho, alargado agora por novos e novas "Amálias", acotovelando-se na sangria desatada do sucesso.
Nunca é tarde, diz-se, mas a verdade nua e crua é que o aforismo não se justifica desta vez. É tarde, muito tarde para uma estranha forma de vida pautada pela medíocridade de um país que nunca te mereceu... que não te merece. Merecias mais, Amália, muito mais...

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